Acho que a primeira coisa a ser colocada quando nós pensamos em ocupação dos espaços políticos por corpos iguais ao meu, tendo sido eu, a mulher mais bem votada do país, é a construção que esses movimentos vêm fazendo pelo alcance, a dignidade e o acesso a direitos, né?
Ser a mulher mais bem votada do Brasil, sendo ela negra, travesti e periférica, num país que elegeu Jair Bolsonaro, significa que nós estamos tendo uma árdua e longa construção pela busca da ocupação desses espaços e pelo acesso ao direito.
Nós somos uma população negada do direito. Uma população que não se viu representada durante muito tempo na esfera política. Nossa ausência na esfera política fez com que os nossos direitos fossem cada vez mais retardados e, quando nós nos colocamos neste lugar, percebemos a importância de ressignificar a nossa presença na sociedade. De ressignificar os lugares que nós precisamos ocupar e de fazer com que a sociedade possa nos ver a partir de outras perspectivas.
Isso perpassa pelo fortalecimento e construção de políticas públicas e pela visibilidade desses corpos em lugares ainda não vistos. Ter estes corpos na política faz com que nós também limpemos o imaginário social que ainda insiste em nos olhar e nos enxergar apenas nos espaços de marginalidade, nos espaços de compulsoriedade, para que vejam que somos capazes e temos competência de ocupar estes lugares e pra pensar direito não somente para nós.
Porque a nossa forma de fazer política é horizontal, é abrangente, pensando em todas as esferas. A nossa chegada no espaço político pensa e reformula a política para todos os outros grupos. Por isso, é tão importante que haja cada vez mais mulheres negras, que haja cada vez mais LGBTs, que a classe trabalhadora possa fazer parte dos processos políticos e das tomadas de decisões, para que essas tomadas de decisões e esses processos também sirvam a nós e também possam nos beneficiar.
Nós estamos cansadas e não suportamos mais uma política que só nos nega direitos, uma política que não nos enxerga, uma política que é feita a partir dos interesses de uma hegemonia e em detrimento de nossas vidas, de nossa educação, de nossa saúde, de nossa dignidade, de nossa humanidade.
Por isso é tão importante quando nós ocupamos esses espaços, quando nós pensamos na representatividade a partir de todas essas camadas mais profundas e que não é apenas um corpo ali presente, mas é um corpo em movimento e é um corpo em transformação.
Mês da Visibilidade Trans
No mês da Visibilidade Trans o E! Online Brasil abriu espaço para que todes possam se expressar. Este texto foi o relato de Erika Hilton, vereadora da cidade de São Paulo pelo PSOL, sobre a importância da ocupação de espaços políticos pela população trans.
A motorista Ana Carolina Apocalypse escreveu sobre o processo de transição de transição na terceira idade.
E no primeiro texto da série, Thamirys Nunes, autora do livro Minha Criança Trans - Relato de uma mãe ao descobrir que o amor não tem gênero, abre o coração sobre a transição da filha Agatha.