Visibilidade Trans: Linda Brasil e a luta contínua para transformar a realidade

Mestra em educação relembra desafios que superou para estudar e reforça importância da luta política.

por Linda Brasil 31 jan, 2022 22:00Tags
Linda BrasilInstagram @lindabrasilaracaju

Sou graduada em Letras Português-Francês e mestra em Educação pela UFS, além de defensora aguerrida dos Direitos Humanos, transfeminista, feminista, ativista LGBTQIA+ e combativa defensora das trabalhadoras e trabalhadores.

Sergipana, de Santa Rosa de Lima, minha vida de educadora se mistura com a militância e temos como exemplo a minha luta travada dentro da Universidade Federal de Sergipe pelo uso do nome social, que resultou em uma vitória não só para mim, mas para toda a população trans que consegue acessar a Universidade.

A luta pela Educação não é apenas pela minha aplicação como direito básico, mas na ampliação do acesso para as minorias compulsoriamente excluídas do ambiente acadêmico.

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Minha militância se iniciou na luta feminista, através do Coletivo de Mulheres de Aracaju, onde sempre entendi que as lutas deveriam acontecer de forma interseccional (gênero, classe e raça). Contribui para a criação da Casamor com a proposta de acolher a população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade e transformar a vida dessas pessoas que estão em constante processo de invisibilidade.

Embora a política partidária não estivesse nos meus planos, a minha representatividade cotidiana e minhas ações foram cruciais para me sentir forte para disputar os espaços de poder, entendendo que poderia fazer ainda mais pelas pessoas negligenciadas por leis excludentes. Através do PSOL fui candidata por três vezes, uma à deputada estadual e duas à vereadora. Em 2020 me elegi como a vereadora mais votada da cidade com 5773 votos. Sou a primeira mulher trans eleita para um cargo público parlamentar em Aracaju e no estado de Sergipe.

O fato de eu me colocar como candidata, tem a ver com meu processo de empoderamento, como a minha participação foi importante, meu ingresso na universidade. Eu passei por muitos processos de exclusão, e somente com 40 anos consegui ingressar na universidade.

Esse processo me deu confiança de me organizar coletivamente, primeiro nos movimentos sociais, depois no partido, e depois me colocando como candidata, a minha vivência como candidata, eu me vejo como uma sobrevivente, porque a expectativa para pessoas trans é de 35 anos, e isso me dá forças para persistir e resistir, ocupar esses espaços mesmo com tantas adversidades.

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Então, quando eu fui eleita aqui em Sergipe, fui a primeira do meu partido, e a primeira vereadora trans, isso gerou um fato histórico e simbólico muito importante. Foi um paradoxo em meio a esse contexto político que estamos vivendo de ataque aos direitos humanos, mas também serve de motivação e esperança para outras pessoas também se colocarem, então pra mim, a minha experiência pessoal, na universidade e agora na política institucional acaba contribuindo, mesmo em meio a esse período de retrocessos, para que a gente possa pensar que em mais de nós, mais pessoas lgbtqia+, pessoas trans, pessoas negras, possam ocupar esses espaços.

No meu segundo ano de atuação, venho desenvolvendo ações e proposições para a população Trans, construindo conjuntamente e em diálogo constante com movimentos sociais, segmentos sociais vulnerabilizados, sindicatos e outros.

Foram protocolados Projetos de Lei destinados a propiciar dignidade e respeito às pessoas trans, entre eles o Dia Municipal do Orgulho LGBTQIA+, propus a elaboração de um Plano Municipal de combate a LGBTfobia, que tratará também do uso do banheiro público de acordo com a identidade de gênero, cotas para ingresso de pessoas trans em concursos públicos e que seja respeitado o nome social na lápide de pessoas trans, entretanto, todos esses foram rejeitados.

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Outro projeto de Lei e que foi aprovado nas comissões para ser votado em plenário é o que visa prestar uma homenagem a memória da ativista e mulher trans Laysa Fortuna que foi brutalmente assassinada, o Projeto de Lei aponta a que a Rua Q do bairro Porto Dantas, passe a ser denominado Rua Laysa Fortuna. Brutalmente assassinada. Moradora do bairro Coqueiral, Laysa era estimada pela sua comunidade, onde todos recordam sua garra, sua alegria, sua luta por todos, sua vontade de ver as pessoas felizes e livres, sua caridade e ajuda de todas, todos e todes ao seu redor. O PL também contribui para garantir o enfrentamento à transfobia.

Infelizmente, o que deveria ser respeitado como um direito básico, não o é devido a transfobia presente na sociedade. Infelizmente, casos de hostilização, humilhação e outros tipos de violência contra a população LGBTQIA+ envolvendo o uso de banheiros, sobretudo com pessoas trans, são constantes em nossa cidade e em todo Brasil.

Venho dialogando para fortalecer a criação do conselho municipal para tratar das questões LGBTQIA+, de extrema importância para cobrar a implementação das políticas para o segmento, assim como uma importante estratégia de combate a violência LGBTQIA+fóbica.

Mês da Visibilidade Trans

No mês da Visibilidade Trans o E! Online Brasil abriu espaço para que todes possam se expressar. Este texto foi o relato de Linda Brasil, vereadora da cidade de Aracaju pelo PSOL, sobre a importância da resistência para transformar a sociedade.

Erika Hilton, vereadora da cidade de São Paulo pelo PSOL, escreveu sobre a importância da ocupação de espaços políticos pela população trans.

A motorista Ana Carolina Apocalypse escreveu sobre o processo de transição de transição na terceira idade.

E no primeiro texto da série, Thamirys Nunes, autora do livro Minha Criança Trans - Relato de uma mãe ao descobrir que o amor não tem gênero, abre o coração sobre a transição da filha Agatha.