Sou uma mulher transgênero, tenho 63 anos, nasci e moro em São Paulo e trabalho como motorista. Eu já fui casada, me divorciei há 16 anos e tenho uma filha. Tenho um ótimo relacionamento com meus familiares e meus amigos.
Desde criança eu já me sentia diferente, mas não entendia direito porque eu sentia vontade de usar as roupas da minha irmã e porque me sentia bem com elas.
Eu já nasci assim e desde cedo já me sentia uma menina. Sempre tive o desejo de me identificar como mulher, mas pela falta de representatividade na minha vida essa transição aconteceu na terceira idade porque eu fui deixando o tempo passar e me ocupando com outras tarefas e trabalho.
Até essa altura da vida eu já havia tido diversos relacionamentos, mas foi em 2017 que tudo mudou. Tive a oportunidade de assistir a novela da TV Globo, A Força do Querer, que foi muito importante pra mim. Foi através dela que eu conheci a palavra transgênero e consegui me entender.
No início eu tive vontade de sair gritando por aí, mas aos poucos percebi que todas as pessoas já sabiam e já estavam acostumadas com meu jeito de ser.
Eu não conhecia nada sobre o processo de transição, mas então, pelo SUS, iniciei e realizei todo o meu processo. Participava das conversas em grupo e com a psicóloga até a liberação do tratamento de hormonização e foi maravilhoso. Considero uma conquista, pois tinha medo de enfrentar o que eu precisava passar para me tornar o que tanto desejava.
Redes sociais e vida pós transição
Eu já tinha minhas redes sociais quando iniciei a transição e decidi mostrar para o mundo que sou uma mulher trans que realizou a transição na terceira idade. Acho muito importante mostrar para o mundo como foi que aconteceu comigo, como foi minha trajetória e levar uma palavra de esperança para muitas e muitos que passam pela mesma situação em que eu passei a vida inteira.
Após minha transição, tudo só mudou para melhor. Estou muito mais feliz e realizada e as críticas que aparecem eu simplesmente ignoro e não dou atenção, pois o que importa é minha motivação e minha alegria.
Mesmo aos 63 anos, não me sinto idosa ou velha para ser quem eu sempre fui.
Sempre digo,nunca é tarde para ser feliz. Eu nasci em uma época em que não havia referências, me sentia menina e não entendia. Mesmo assim, cresci feliz. Agora sou mais feliz ainda e me sinto realizada.
Mês da Visibilidade Trans
No mês da Visibilidade Trans o E! Online Brasil abriu espaço para que todes possam se expressar. Este texto foi o relato de Ana Carolina Apocalypse sobre o processo de transição de transição na terceira idade.
No primeiro texto da série, Thamirys Nunes, autora do livro Minha Criança Trans - Relato de uma mãe ao descobrir que o amor não tem gênero, abre o coração sobre a transição da filha Agatha.